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De Contribuidor Individual a Gestor de Equipe

Uma reflexão sobre a transição da carreira técnica para a gestão de equipes de desenvolvimento

Na carreira de um engenheiro de software, é natural que, com o tempo, ocorra uma evolução para caminhos distintos: o de especialista técnico ou o de gestor de equipes.

Como especialista, o profissional passa a atuar em contextos cada vez mais amplos dentro da organização, sendo responsável por resolver problemas complexos e se tornar uma referência técnica. Seu papel é essencial para orientar o time na tomada de decisões e na construção de soluções de alta qualidade.

Já como gestor, o foco se volta para as pessoas. O profissional lidera o time, conduz negociações com as áreas de negócio, define estratégias de entrega, gerencia conflitos e garante o alinhamento da equipe com os objetivos organizacionais. Além disso, atua diretamente no desenvolvimento de carreira dos membros do time, promovendo crescimento e engajamento.

Como fui parar na gestão?

Sempre tive um viés técnico muito forte. Na essência, sou aquele cara que gosta de resolver problemas através da tecnologia. Sempre curti codar, estar com a mão na massa e participar ativamente das entregas dos times por onde passei. Por isso, quando pensava em carreira, imaginava que meu caminho natural seria o de me tornar um especialista técnico.

Mas ao longo do tempo, percebi que eu também tinha facilidade para lidar com pessoas, me comunicar bem, ajudar colegas a resolverem seus desafios — técnicos ou de carreira. Um dia, um gestor me chamou para conversar e me perguntou qual caminho eu pretendia seguir. Na visão dele, eu tinha perfil para atuar bem tanto como especialista quanto como gestor.

Confesso que meu maior medo era me afastar da “ação”, deixar o meu editor de código e as ferramentas que tanto gosto. Afinal, não tem nada melhor do que abrir o VSCode e fazer a magia acontecer.

Tudo mudou quando, em uma mudança de emprego, fui contratado como engenheiro sênior para atuar como especialista técnico. Mas, talvez por afinidade ou pelo meu perfil ter chamado atenção, meu gestor me ofereceu a oportunidade de liderar um time. E foi assim que comecei a trilhar meu caminho na gestão.

Desafios e o que mudou

O início foi desafiador. Eu havia acabado de mudar de empresa, estava em um contexto de negócio totalmente novo e, de repente, também estava em uma nova função — agora como gestor, e sem experiência formal na área.

Assumi um time pequeno, com duas pessoas inicialmente. Pouco depois, chegou uma terceira e contratamos a quarta. Também passei a atuar ao lado de duas pessoas de negócio. Foi ali que comecei, de fato, a viver o dia a dia da gestão.

O primeiro grande impacto foi a “abstinência” de código. Embora na empresa fosse comum que gestores ainda tivessem algum contato com a parte técnica, percebi que a frequência naturalmente diminuía bastante. E não é só pela agenda cheia: se você se dedicar demais a uma task técnica, pode acabar se distanciando da visão macro e da gestão do time.

Aprendi na prática que tarefas críticas ou que bloqueiam outras pessoas não são as melhores para um gestor assumir. A chance de atrasar essas entregas é alta, já que a sua agenda como líder não é igual à de um contribuidor individual.

A rotina muda bastante. Você passa a ter muito mais reuniões — sejam de alinhamento interno, com outras áreas, ou com stakeholders. Entra em discussões de planejamento, ajuda o time a remover impedimentos e colabora com o negócio para alinhar entregas. Aos poucos, o VSCode vai dando lugar ao Google Docs e ao Google Sheets.

Nas primeiras entregas do time, confesso que tive um sentimento estranho — a impressão de que eu “não tinha feito parte”, já que não escrevi código. Mas aos poucos entendi: a realização do gestor está nas conquistas do time. Se as entregas estão fluindo, se as pessoas estão bem e crescendo, seu trabalho está sendo feito.

Hoje, aprendi a me realizar através do sucesso do time. E isso, no fim, também é mágico. Só muda a forma como a magia acontece.

E vale reforçar: o gestor também faz parte das entregas. Ele é peça fundamental para que elas aconteçam, garantindo que as pessoas entreguem seu melhor. Um bom gestor sabe tirar o melhor de cada pessoa e agregar valor real ao negócio, ajudando a direcionar o time pelos melhores caminhos.

Impressões e o futuro

Hoje sigo atuando como gestor, agora em uma nova empresa e liderando um time maior. Completando meu primeiro ano nessa jornada, vejo o quanto é gratificante contribuir com o crescimento das pessoas e impulsionar o negócio através dessa condução. Ainda participo de entregas técnicas e coloco a mão no código sempre que possível — algo que ainda me dá muito prazer.

No entanto, entendo que, conforme avanço nos níveis de gestão, o trabalho técnico tende a dar lugar a uma atuação mais estratégica e tática dentro da organização. E tudo bem. Faz parte da evolução.

Viver o lado da gestão tem sido transformador. Você começa a enxergar o ciclo de desenvolvimento de software com outros olhos — vai muito além de escrever código. É sobre pessoas, processos, alinhamento, e impacto.

Tenho certeza de que, se um dia voltar a atuar como contribuidor individual, voltarei muito mais preparado. A experiência como gestor amplia habilidades, aprofunda a visão de produto e negócio, e desenvolve competências que transformam a forma como nos relacionamos com o time, com o código e com os resultados.

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